Começa o recenseamento na China, o país mais populoso do planeta

Os seis milhões de recenseadores convocados não terão um trabalho fácil. Muitos chineses relutam em abrir a porta porque temem revelar que, por exemplo, têm mais filhos do que a lei permite.


JORNAL NACIONAL

Edição do dia 02/11/2010
02/11/2010 21h20 - Atualizado em 02/11/2010 21h31

A China está começando o maior censo da história. Seis milhões de recenseadores que vão fazer o trabalho de campo. Só pra comparar: no Brasil, trabalharam no censo, 194 mil. O levantamento no país mais populoso do planeta está na reportagem de Alan Severiano.



Ostentação na cidade, pobreza no campo. O retrato da nova China vai mostrar um país mais desigual. Os seis milhões de recenseadores convocados para o maior censo do planeta não terão trabalho fácil. Muitos chineses relutam em abrir a porta de casa porque temem revelar segredos como, por exemplo, ter mais filhos do que a lei permite.


Desde 79, quando a política do filho único foi adotada, punindo com multa quem tem mais de um bebê, o ritmo de crescimento da população pisou no freio. Mesmo assim, já são mais de 1,3 bilhão, a maioria ainda vive no campo.
Três décadas depois, a China começa a sentir os efeitos da política do filho único. A população está envelhecendo, e isso já virou motivo de preocupação.

De 79 para cá, o número de filhos por casal caiu de 2,7 para 1,8. Em breve, o governo vai ter de abrandar a regra, diz um economista. "Se nada for feito, esse será um grande problema daqui a cinco, dez anos, porque precisamos de jovens para bancar a aposentadoria dos velhos", completa.

Nas ruas, a falta de amparo aos idosos já é visível. Uma mulher reclama que a pensão, equivalente a R$ 250, mal dá para pagar os remédios. O censo também vai revelar o tamanho de outro desequilíbrio provocado pela política do filho único: hoje, em algumas regiões, há 130 homens para cada 100 mulheres.


Como na China, o homem é quem cuida dos pais na velhice, milhares de grávidas praticam aborto quando descobrem que esperam meninas. Quando viram adultas, muitas mulheres são raptadas por rapazes que não conseguem um par. Na família Chang, a filha de três anos é a alegria da casa. Mas quando pergunto se teria outro filho se o governo permitisse, o pai não titubeia. “Sim, sim, sim! Queria ter uma menina e um menino”.

"Enquanto isso aqui no Brasil, sobra mulher para tão pouco homens!"